Sustentabilidade: O combate ao desperdício de recursos com o envolvimento dos agentes que compõem as sociedades


Há algum tempo ideias circulam pela caixola sobre como engatar elos de produção reaproveitando recursos. Muito antes de saber que a Economia Circular estava a todo vapor, sentia um enorme incômodo com o volume de descartes e seus impactos. Talvez por esse motivo dediquei algum tempo a observar, ouvir e descobrir no meu dia a dia como poderia destinar melhor os meus próprios resíduos. Fato é que há diversos esforços mobilizados no sentido de reduzir os impactos ambientais através de usos mais inteligentes daquilo que nossos maus hábitos descartam.




Atualmente uma das grandes dificuldades que o consumidor encontra é em como descartar corretamente seu lixo e resíduos reaproveitáveis. Recentemente, ao retornar à atividade de produção de doces em modo artesanal, me deparei com a dificuldade tanto na tipificação quanto na destinação, o que me levou a refletir sobre quais soluções viáveis conseguiria desenvolver para facilitar esse trabalho sem significar aumento de custo, perda de tempo ou até mesmo, um deslocamento evitável. Percebi que a forma como hoje estamos sendo orientados a separar o lixo tem gerado confusões pois a mente, diante dessa vida estressante e corrida, exige simplificação nos processos. Então conclui que bastam apenas 3 classificações de descarte:

- Orgânico (Verde);
- Incinerável (Vermelho), e
- Reaproveitável (Amarelo).

Vejo como importante a associação de cores para a assimilação e praticidade do processo de reeducação sobre o descarte do lixo a fim de ter o alcance do objetivo, pois essas cores remetem exatamente ao destino de cada descarte recebido o que facilita a absorção da ideia por parte do “consumidor devolvente” através da diferenciação clara de cada um dos recipientes. No meu caso, ainda vou implantar isso. Por hora, somente separo incineráveis e reaproveitáveis incluindo, infelizmente, o lixo orgânico entre os incineráveis.

Ouvindo catadores, relatos sobre ocorrências de equívocos na hora de “encherem as latinhas” , lendo matérias sobre acidentes com os garis e sobre as dificuldades encontradas pelo setor de reciclagem, inclusive o de plásticos, sentindo na pele a mesma dificuldade e incomodada com a situação, percebo que há um nicho de negócios atrativo, essencial e viável que beneficia a muitos e talvez deva funcionar como um dos elos principais para a ativação eficiente da Economia Circular.

Além da necessidade de optarmos por embalagens retornáveis, que são mais duráveis e possuem um grande potencial de reaproveitamento, é preciso analisar que nem todo tipo de produto se torna viável nas embalagens retornáveis devido ao peso, ao tipo de transporte e manuseio, ao consumo final... Diante disso, também é importante perceber que não é o produto o problema, mas a forma como lidamos com a destinação de seu resíduo.

Debruçar a responsabilidade da correta destinação apenas sobre os produtores é ignorar e transferir a cota individual de cada um que, ao consumir o produto, torna-se tão responsável quanto. Desse modo, os hábitos, conceitos e cultura precisam mudar nesse sentido a fim de que se desenvolva a consciência sobre resíduo devidamente descartado gera empregos, recursos, redução de impacto ambiental, melhorias sociais e diversos ganhos em todas as direções, inclusive à saúde do próprio bolso, que nesse caso não seria o principal foco, porém não é inimaginável que muitos se surpreendessem com o volume de créditos acumulados dentro de um período razoável se houver a criação de um “Banco de Créditos Sustentáveis” para recebimento no ato da validação do recolhimento.

Em uma realidade mais futurista, talvez máquinas de recebimento de descartes, em qualquer dos tipos de resíduo gerado e com validação da qualidade no ato do recolhimento, farão a informação imediata da “entrada do recurso recolhido no estoque geral” com o devido pagamento via créditos digitais ao “Consumidor Devolvedor de Recursos”. No modus atual, recolhimentos responsáveis feitos separadamente em escalas de dia e horário podem ser a solução viável. Daí, fortalecer e fomentar tais iniciativas agrupando-as de forma mais inteligente, orientando-as de modo a coordená-las e geri-las focando-as na continuidade com objetivo de prepará-las e integrá-las ao processo de logística reversa que garanta o ressuprimento de materiais usando-as como embrião de elos de ligação entre essas pontes, pode ser o meio inicial de descobrir o caminho a se trabalhar nesse âmbito, inclusive com isso, melhorando as condições de trabalho do catador já operante e trazendo sobre ele um novo sentido de valor.

Dessa forma, pensar no lixo como nichos de negócio incluídos em cadeias de reprocessamento, me acendeu que os tipos de reaproveitamento dos resíduos podem representar soluções interessantes, inclusive para a melhoria da qualidade e segurança de vida e no trabalho dos catadores, e por consequência, de suas famílias e comunidades, o que mais uma vez reflete ganhos em todas as direções. Observe:

Lixo Orgânico:
Se descartados com estrutura de compostagem, podem contribuir para fabricação de adubos a serem aplicados tanto no cultivo particular, como na agricultura de subsistência até o cultivo em larga escala. Com o compromisso correto de todos os partícipes, haveria espaço para quem produziria a “serragem orgânica capaz de controlar odores” usada no lixo orgânico até seu recolhimento – À exemplo do granulado sanitário usado para gatos e utilizaria nela embalagens já integrantes da cadeia de retorno de recursos, bem como espaços para a cooperativa que trataria esse resíduo, e para o segmento da fabricação do adubo. Assim, de maneira coordenada, inteligente e devidamente estruturada, o modus de descartar esse tipo de resíduo pode gerar postos de trabalho, recursos e riquezas impactando diversos âmbitos.

Lixo Incinerável:
Uma das grandes lições que podemos apreender do modelo japonês é sobre como o lixo pode gerar energia. Numa era onde há tanta discussão necessária sobre a produção energética, reaproveitar o lixo para essa finalidade seria uma forma de reduzir os impactos ambientais e ainda gerar material para asfaltamento, massa de rejuntes e ligas diversas e etc, sendo que aqui cabe a aplicação de recursos nas Turmas de Pesquisa e Desenvolvimento, inclusive das Universidades que trazem em seus berços tanta capacidade e não dá para continuarem negligenciadas ou extremamente dependentes de recursos governamentais. Cabe ressaltar que já dispomos de capacidade tecnológica para construirmos sistemas de filtragem de gases resultantes desse processo de combustão a fim de que seu impacto seja mitigado ao máximo, que digam os escapamentos de automóveis.

Lixo Reaproveitável:
Aqui caberia todo tipo de reciclável e reutilizável, devidamente higienizado e seco por quem o descarta, e este deverá ser recolhido por cooperativas cuja central de separação daria a devida destinação por tipo às Centrais de Tratamento para o devido direcionamento e retorno do recurso para a cadeia produtiva. Ou seja, mais benefícios em todas as direções, inclusive o principal deles: Dignidade, que através da Justiça Social feita via trabalho devidamente reconhecido e remunerado, gera fator de inclusão social.

Vale destacar que as Cooperativas podem ser estruturadas como parceiros individuais ajustados entre si, como também compor um complexo de parceiros pulverizados por atividades, cujas ocupações podem cobrir desde o momento do recolhimento à atividade fim de produzir, distribuir e/ou comercializar o produto final. E como funcionaria o estímulo para que o consumidor se comprometa a descartar corretamente seu lixo? Através de créditos recebidos, que no caso de condomínios, empresas e imóveis individuais, poderia refletir em abates de impostos uma vez que o encadeamento correto reduz o custo com manutenção das cidades. Outra possibilidade é, se houver como identificar o “Consumidor Devolvedor de Recursos”, gerar créditos utilizáveis em quaisquer estabelecimentos que se comprometam com a cadeia.

O PicPay veio demonstrar como carecemos facilitar os processos de recebimento, pagamento e gestão de recursos financeiros. Mais do que propaganda gratuita, admitir que uma ideia aparentemente óbvia pode gerar resultados espetaculares e ainda por cima servir como base para novas aplicações e usos, é básico. Usar a ideia de uma plataforma testada e conhecida, facilitaria e encurtaria o desgaste nesse processo. Assim, cada “Consumidor Devolvedor de Recursos” cadastraria no “Banco de Créditos Sustentáveis” um login para recebimento e utilização dos valores recebidos. E quem não usa a tecnologia? Um cartão chip como o de passagem utilizados em transportes públicos poderia ser a solução, ao menos até que o uso se torne completamente digital com o decorrer do tempo como parece tendenciar.

CONCLUSÃO
De pouco valem todos os esforços em desenvolver substitutos para os produtos que foram tomados para culpados dos resultados que o modus de viver atual produz se não vier junto o desenvolvimento de uma nova consciência quanto ao peso da responsabilidade individual nesse processo. Portanto, como se pode observar, inclusive pelas imensas ilhas de plástico nos oceanos, nos aterros sanitários a céu aberto, nas inundações por falta de escoamento por entupimento dos canais de drenagem e em tantos outros fatos observáveis que são fruto das irresponsabilidade e inconsciência, não é o produto em si o problema, mas como o destinamos. Se a destinação for adequada, não só podem ser gerados benefícios em todas as direções e camadas das sociedades, seres e meio ambiente, mas principalmente, estará sendo forjada uma nova cultura replicável em qualquer contexto, escala e âmbito de interações humanas.


Abraço, Gratidão e Até! ♥🌹



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