Tríade de Equilíbrio
Antes de prosseguir a leitura, tenha em mente que esse texto não se trata de artigo ou conteúdo científico, mas busca trazer um questionamento quase que filosófico a fim de cutucar ideias no sentido de mobilizar no mínimo reflexões sobre os pontos aqui abordados a fim de, quem sabe, conseguir parceiros que contribuam nesse delicioso processo que é pensar e desenvolver juntos, ok?
Boa leitura!
Está mais do que na hora de repensarmos a forma como organizamos o sistema sobre o qual vivemos. Ao longo do tempo viemos colocando no centro das ideias: Deus, O Homem e, recentemente, levantou-se a ideia de Ambiencentrismo e Capitalismo Natural. A questão é a relação de interdependência existente entre Homem, Ganho e Meio. Uma tríade que não devemos mais sonegar e que possui entre seus fatores, interações direta de interdependência nos dois sentidos de fluxos.
O homem sempre irá degradar o Meio para atender as suas necessidades e isso é um fato inevitável. O ponto de mudança está em como tornar essa ação menos invasiva e mais rapidamente absorvível pelo Meio de maneira que ele receba essas invasões de forma integradora por respeitarem seus processos, passando o homem assim a desenvolver uma relação simbiótica saudável com o planeta a fim de ter suas necessidades atendidas.
O que não viemos observando é que, para operacionalizar isso, deve-se observar o equilíbrio dessa tríade. Ou seja, todas as ações devem respeitar as limitações em proporções similares aplicadas em todas as direções, desenvolvendo meios que respeitem os interesses de todos os envolvidos objetivando a continuidade, que por sua vez, deve ser a norteadora de todos os processos baseados nesse pensamento e lastreada na Economia Circular bem como no Respeito ao Homem Holístico e não mais apenas o Ser Produtivo exclusivamente.
O desequilíbrio entre os interesses demandados por cada um dos fatores componentes nessa ideia causa as diversas distorções quais temos experimentado ao longo da história, e foram tratados erroneamente como paradoxos irreconciliáveis quando na verdade não são. O que precisa alterar para conciliá-los é a percepção, a consciência e o princípio de Indivíduo para Unidade.
A permanência e saúde do topo depende da saúde da estrutura, volume e base, além da firmeza e estabilidade da superfície sobre a qual a mesma está erguida, que nesse caso, seria o Meio. Onde no topo estariam os empresários, investidores e os tomadores de decisão. No volume, trabalhadores especializados, comuns ou autônomos, executivos, políticos, pesquisadores, cientistas... Na base, o "Sistema Operacional". E nos encontros que funcionam como colunas, estariam os norteadores: Leis e Regras, Padrões e Diversidade, Comportamento e Consciência, e Ciência e Tecnologia.
Usando essa alusão, pode-se perceber que uma pirâmide formada por lados equiláteros gerará uma estrutura consistente e justa entre si que resulta, se posta em movimento em torno de seu centro, em um círculo com paradoxos conciliados. Isso não significa dizer que a mesma figura formada por lados não equiláteros não geraria um círculo, que nesse caso representa uma realidade, mas que, estando devidamente ajustada, os efeitos e resultados colhidos na realidade gerada pelas formas devidamente compensadas, são de melhor qualidade e saúde, e por esses motivos, tendenciariam à continuidade de forma mais eficiente. Assim, a estrutura do sistema atual precisa ser repensada através do desenvolvimento da consciência em Sentido de Unidade, discernimento assertivo, capacidade de autogestão e auto responsabilidade.
Continuar enxergando as partes componentes do sistema como dissociáveis é ignorância. Pois assim como num corpo saudável todas as partes funcionam em conjunto, cada uma atendendo ajustadamente à sua finalidade, o sistema deve ser compreendido como um todo interativo, mobilizado por partes que devem interagir de forma justa, transparente e equilibrada. Ou seja, é necessário desconstruir as místicas de Empresário x Trabalhador, Ganho X Meio, Político x Sociedade, Ser Produtivo x Ser Social ou Família, Valia x Ocupação Laboral... Tudo é necessário e tudo afeta e é afetado o tempo todo bem como tudo interfere na qualidade de vida do ser humano.
Dessa forma, a própria necessidade de fazermos esse ajuste está demandando encontrar soluções aplicáveis. Por esse motivo, não adianta continuarmos considerando que o sistema atual pode ser empurrado por mais tempo. Todos os lados gritam demandas justas, sejam elas específicas ou gerais. Dentre elas, está mais que evidente a necessidade de mudança sobre a percepção do Ser como Eu Produtivo quase que exclusivamente. Já quanto aos índices de Desemprego, a Ocupação, o Ganho e a Forma de Exercer o Trabalho, seria possível usarmos a mesma estrutura em um espaço de tempo útil maior com redução de jornada de trabalho por indivíduo criando três postos em lugar de um?
Confesso que os assuntos acima têm ocupado a minha mente desde 2015 enquanto decidia sobre o que desenvolveria no meu projeto de conclusão de curso e acabei deixando esse tema para um período sobre o qual pudesse fazer maior aprofundamento. O que me levou a considerá-lo foi o fato de faltar tempo para que o trabalhador comum consiga resolver suas questões pessoais como ir ao banco, ao médico, fazer um curso, estar mais presente no ambiente familiar, ter vida social... E como essas ocorrências acabam impactando tanto as organizações internamente quanto as sociedades e economias como um todo. Dessa forma, a ideia de tornar viável ao trabalhador exercer sua humanidade de modo pleno e não apenas ficar se forçando a operar tudo isso à custo de sua saúde física, mental e emocional, acabou se revelando uma possibilidade de melhorar os índices organizacionais, sociais e econômicos e colateralmente, os ambientais.
Ainda carecendo de desenvolver um modelo sobre o qual seja possível testar ou ao menos projetar todos os impactos diretos e marginais decorrentes de uma alteração assim, quais seriam os benefícios que motivariam a análise da proposta? Possibilidade de Pleno Emprego, Redução dos Índices de Violência, Suicídio, Depressão e Afastamentos por Doenças Diversas, em especial, as por motivo de trabalho. Aumento de Consumo de Energia, Aumento da Estrutura do Estado, Aumento de Consumo, Mais tempo disponível para a família e para capacitação... Como se pode notar, há efeitos em todas as direções.
Fato é que hoje vive-se numa ilusão de que é possível dar conta de exercer todas as nossas faces de ser humano de maneira saudável com o que sobra de nós após exaustivas horas dedicadas a uma função laborativa sobre a qual se perde efetivamente cerca de 1h a 1:30h de tempo útil porque é humanamente impossível produzir por oito horas seguidas, mesmo com a pausa para almoço, isso sem contar todo o tempo adjacente consumidos nas atividades de ida e volta para o trabalho. O Home Office é uma forma de tentar burlar essa necessidade de redução da jornada, porém exige-se ao menos 15% de aumento de produção, ou seja, é mais uma forma de empurrar o trabalhador para um contexto de extração sobre o qual, por força de reação de mais de 250 anos de submissão a uma forma egocêntrica e incivilizada de gerar recursos, ele já não suporta mais subsistir.
Daí a ideia de que os princípios aplicados na estrutura remuneratória do trabalhador comum não deve ser o mesmo que o aplicado ao empreendedor, trabalhador autônomo e investidor pois os fatores de retorno são diferentes. Um vende sua força e capacidade de produção, o outro usa todos os recursos necessários para poder realizar a sua visão, colhendo com isso os frutos de correr maior risco e carregar sobre si maior responsabilidade. Não se tem como continuar exigindo que o trabalhador empregado funcione diferente de sua finalidade que é produzir em sentido do que foi contratado e aqui vale ressaltar que significa dizer o mesmo que exigir dele um nível de empenho, dedicação e sacrifício equivalente ao seu empregador pois os volumes de pesos e retornos são incontestavelmente desproporcionais. Dessa forma, os estímulos que aumentam sua remuneração acabam o exaurindo ainda mais levando-o a um ponto de existência sub-humano, que como consequência, geram vários distúrbios e impactos colaterais que ultrapassam o ambiente organizacional e de si mesmo.
Num momento em que a Economia Circular inteligentemente surge como solução mais eficaz e alternativa ao sistema vigente, não se pode excluir desse processo o homem e a forma de pensar sobre o trabalho, meios e estrutura de compensação. O que seria o cerne desse fator estaria centrado numa percepção holística do ser humano e nas várias funções e finalidades quais ele pode assumir. Ou seja, que além de peça produtiva, o homem também precisa exercer saudavelmente os demais papéis que o compõem para que ele possa viver com saúde e mais harmonicamente tanto consigo mesmo, quanto com o outro, com o meio e com os demais agentes e fatores que operacionalizam o sistema no qual ele se encontra contextualizado.
Da mesma maneira, não se deve negligenciar os que acabam marginalizados do sistema, quer seja por auto alienação, que nesse caso opera a escolha própria e por isso não constitui fator sobre o qual se possa decidir, e os que acabam incapazes de integra-se nele, como é o caso dos que estão em situação de desamparo, desvalia, incapacidade, despreparo e falta de incentivo pois, quanto mais justo e equitativo for o sistema, espera-se que menor deverá ser a existência dessa espécie de "desvio padrão", não significando dizer que os mesmos não ocorram em dados momentos de reajuste ou necessidades e ocorrências individuais.
Risco e Retorno devem ser proporcionais até para que seja possível manter a atratividade para aqueles que se dispõem corrê-los uma vez que assumem maior responsabilidade. Um fato indiscutível é que a maioria não está disposta ou não possui vocação para isso. Assim, essa lógica quando aplicada sobre os perfis diferentes de produtores de riqueza, gera dissonâncias quais já foram explicitadas, e constituem nos motivos quais os parâmetros precisam ser modificados a fim de equalizar esses pólos aparentemente paradoxais, quando na verdade são complementares e interdependentes entre si. O empreendedor e investidor visa maximizar seus ganhos, porém não deve continuar olhando seu negócio apenas por esse viés, mas deve acrescer à sua consciência o nível de responsabilidade e impacto no desenvolvimento social e da sociedade com um todo qual ele passa a cooperar diretamente. Já o trabalhador precisa de recursos financeiros e tempo para poder desenvolver as demais áreas incluindo capacitação a fim de entregar resultados melhores tanto no exercício de seu trabalho, quanto na sociedade, na família e como cidadão.
Lembro-me de ter levantado algumas informações sobre o que ocorre em regiões onde funcionam continuamente e nelas foram percebidos que isso gera transtornos até para o meio ambiente porque afeta diretamente os horários de descanso dos demais seres, e além disso, dependendo da cultura e da não redução da carga horária de trabalho com implementos de horas extras, muitos poderiam literalmente "morrer de tanto trabalhar", como é o caso da Síndrome de Karoshi. Daí a compreensão de que é necessário ao menos um turno de pausa, e que talvez, para se tornar viável e atrativo, deveria ser considerada a aplicação em três turnos, gerando 18 horas de funcionamento em lugar das 10 horas médias atuais.
Mais pessoas trabalhando, mais recursos sendo gerados e demandados. Elos interligados usando de maneira melhor os recursos. Pessoas com horário regular, tendo o devido descanso semanal para que a quebra de rotina gere a sensação de renovo, operando numa estrutura que o respeite holisticamente em vez de debilitá-lo. Nesse ponto é possível inclusive alocar a questão do "melhor horário produtivo" que varia de pessoa para pessoa, aumentando o desempenho organizacional pois a organização poderia usufruir desse momento de maior produtividade de seu colaborador, podendo até ver reduzidas as ocorrências de CAT (Certificado de Acidente de Trabalho), porque o trabalhador não estaria exaurido, se sentiria respeitado, estaria em maior equilíbrio e desfrutando do momento em que sua plena atenção fica em níveis mais altos. Ou seja, não basta criar um escudo legal sob a alegação de proteger o trabalhador se na prática ele é desrespeitado na sua totalidade, não é tratado como semelhante ou como alguém que é muito mais que um meio de obtenção e geração de riquezas.
Essa percepção vislumbra a ideia de que o trabalho como fator preponderante de desenvolvimento do homem bem como de sua higiene mental ordena de forma direta e indireta a estrutura comportamental do homem em sociedade, mesmo que não seja ele o único fator presente nesse contexto e que também contribui para a qualidade do ser atuante passiva ou ativamente no sistema.
Assim o Corpo da Pirâmide, estaria representado em suas faces pelos agentes:
Empresários, Investidores e Tomadores de Decisão,
Trabalhadores Empregados, Autônomos e Microempreendedores,
Governo e Representantes Políticos,
Sociedade em todas as suas expressões (diversidade, guetos, crenças, segmentos...), interagindo bidirecionalmente em relações diretas e indiretas entre si, suportados pelo Meio Ambiente que fornece a todos os recursos essenciais e é afetados por todos. Desse modo, não tem como sustentar a ideia de adversários ou concorrentes pois somos agentes complementares e interdependentes entre si quais todos dependem do mesmo meio para sobreviver, autodesenvolver-se e existir possuindo apenas funções e finalidades diferentes quais devem ser executadas da melhor e mais eficiente maneira possível.
Assim sendo, a ciência e o conhecimento devem estar à serviço de todos, o que não significa afirmar que são justificadas as práticas desonestas, desumanas, injustas e desequilibradas de ganho, principalmente aquelas que "escravizem" tanto o semelhante quanto o meio ou subjuguem os demais seres num processo cruel de desordem, exploração ou matança. É preciso a adoção de práticas que funcionem sobre um prisma de transparência, confiabilidade, unidade e gestão eficiente. O que vale dizer que práticas que desrespeitem esses princípios básicos carecem de resposta proporcional, ou seja, que os produtos provenientes de processos assim sejam rejeitados, já que seus produtores se comportam como agentes parasitários do sistema, extraindo recursos sem contribuírem de fato para o desenvolvimento saudável do mesmo.
Sob essa lógica, se faz necessário que todos se comprometam com a ideia de pensarmos como espécie que carece sobreviver no mesmo globo e dele, não mais como partidários de etnia tal, minoria tal, crença tal ou bandeira tal. Assim como a Essência prevalece sobre a Forma, a necessidade do Todo deve prevalecer sobre a individual no contexto amplo e no individual a disposição da consciência deve ser centrada no benefício de todos, acima de seu próprio exclusivamente. Isso não significa que seja necessário despersonalizar, padronizar ou igualar. Mas que somos seres individuais e diversos em nossas expressões pessoais que ao atender nossas necessidades particulares devemos observar se infringimos o direito do outro, o interesse do todo e do bem comum.
A Revolução Saudável e Eficaz deve-se iniciar de dentro para fora, com a derrubada dos conceitos inúteis que só tem gerado distorções, atrasado o processo evolutivo de nossas consciências bem como dissonâncias que não fazem sentido algum além de "bestializar o imbestializável" e de drenar recursos úteis em outros campos verdadeiramente necessários, ceifando-nos o direito de amplificar nossas percepções e mentalidades num sentido mais completo de ser e estar. Assim, a ideia de sobrevivência deve ser alterada para de existência e os métodos norteadores com bases extrativistas e egocêntricos para o "modus colaborativista".
É pela necessidade de desenvolver essa ideia que atualmente me dedico a encontrar um modo de aplicar isso ao meu trabalho de maneira a encontrar no micro uma proporção aplicável em maior escala a fim de conectar pontos aparentemente irreconciliáveis e descobrir novas formas de pensar e repensar o processo de geração de riquezas atendendo às demandas que há muito vem sendo de fato negligenciadas ou aparentemente atendidas. Desejo conectar ideias nesse sentido, aumentar conhecimento e prática a fim de entregar resultados melhores e mais tangíveis que ideias, reflexões, pensamentos e análises superficiais. Será muito bom encontrar parceiros e pessoas que estejam seguindo na mesma direção com os quais possa compartilhar o sonho de vivenciarmos uma realidade mais humana e com mais qualidade.
Abraço, Gratidão e Até! ♥🌹
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